sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

26º Depoimento: Gastrosquise


   A Letícia nasceu com Gastrosquise no Hospital das Clínicas/São Paulo. Hoje ela está com 4 meses.




   
Depoimento:


   Em dezembro de 2011, tive uma revelação de que Deus me daria tudo aquilo que eu pedi a Ele e que ainda não tinha recebido, na hora me veio a cabeça a minha tão sonhada casa, até porque há 2 anos tentando engravidar e sem conseguir, desisti.

   Bem no finalzinho de janeiro eu sentia muitas dores ao ir trabalhar, ao ponto de ter que ligar pra me buscarem, no começo de fevereiro passei no médico para ver o que estava acontecendo comigo e ele disse: ''Você só pode estar grávida'', eu respondi: ''Impossível, faz dois anos e nada'', e ele disse: ''Espere e verá''. Me passou vários exames como se eu estivesse grávida sem nem mesmo confirmar com um teste, eu não resisti e fiz um, já sabendo que ia dar negativo... Resultado 'Positivo'. Enfim, como não acreditamos no teste de urina e o de sangue do posto demoraria um mês, resolvemos pagar um ultrassom, no dia seguinte foi confirmado que 'sim' eu estava grávida. Como as dores não passavam, meu marido decidiu que era melhor eu parar de trabalhar, depois de muita discussão eu acabei aceitando até porque era para o bem do bebê!
   Ao 4° mês de gestação, não aguentei mais a ansiedade e fiz um ultrassom por conta mesmo para saber o sexo do bebê, foi ai que a luta começou. No meio do exame o médico disse que meu filho tinha uma pequena má formação, mas que com uma simples cirurgia tudo se resolveria, a chamada Gastrosquise era rara, mas mesmo assim não tão grave. Meu mundo parou de girar e eu não podia fazer nada porque minha filha tinha faltado a escola para conhecer a irmã e estava lá vidrada olhando para TV, o médico disse que se eu tivesse qualquer dúvida era para conversar com o meu ginecologista, eu só falei: ''tudo bem, o nome que você falou vai estar no exame?'' ele disse: "sim" e eu respondi: "Ok". Me mantive calma até terminar o exame, sorrindo para não assustar minha filha mais velha, só que na hora que a menina entregou o exame ela disse ''sinto muito''. Odeio isso, na hora que eu estava mantendo a força sob controle, sai pra rua e comecei a chorar (não sou de ferro né?).

   Pense na primeira coisa que fiz? Pesquisei no google, na hora a gente só vê que em mil casos teve tantos óbitos, em mil casos teve tantos abortos, em mil casos teve poucos sobreviventes, quanto mais eu lia, mais eu chorava e nada de conseguir falar com o meu marido, não conseguia discar, quando discava e ele atendia eu não conseguia falar, quando ele me ligava eu não atendia. Na hora que eu consegui falar eu só disse: ''Desculpa por não ser capaz de fazer as coisas direito, me perdoa por ter feito isso, eu sou uma inútil mesmo, não presto nem pra te dar um filho direito, etc.'', não deixava ele falar, ele só falava: ''para de chorar, o que tá acontecendo?'' e eu não conseguia falar. Fiquei 3 dias chorando e me martirizando, vendo meus sobrinhos aqui em casa brincando sem saber se meu bebê um dia ia fazer parte desse grupo, peguei raiva das crianças, não podia ver eles que eu saia de perto e começava a chorar. Então meu marido  falou: ''Para de chorar, para de ficar se culpando e para de drama''. Eu chamei ele de insensível e mais um monte de coisas.  Depois disso, eu encontrei o grupo, li os depoimentos e adicionei algumas pessoas no meu orkut para saber mais do assunto. Quando conversei com a Rosi, a primeira pessoa que recebeu meu chumbo de dúvidas, minhas inseguranças, medos e etc., resolvi ver de um modo diferente, dei três tapas na minha cara e disse pra mim mesma que era hora de enfrentar isso tudo! Não é promessa de Deus? Não foi revelada? Onde é que Deus mais trabalha, não é a nossa fé? Então moça vai caçar a solução!!
   Comecei a procurar hospitais, adicionei o grupo "Gastrosquise e Onfalocele" no Facebook, conversei com mais pessoas, via fotos de bebês que passaram por isso, enfim, arregacei as mangas, foi um mês horrível, não achava hospital, quando achava eu não pertencia a área, o posto de saúde me mandou a um ambulatório fazer o pré-natal de risco e quando nascesse eu procurasse onde operar ela. Enfim, eu não encontrava solução, não tinha meios de entrar em hospitais grandes como Hospital das Clinicas, Santa Casa e Hospital São Paulo, os três que tinham estrutura para este tipo de cirurgia. 

   E Deus falando busca, e eu não entendia nada, porque eu estava tão longe da igreja, eu até ia, mas não era aquela pessoa que ''Olha como ela é de Deus, nossa'', não entendia o que significava "buscar". Um dia a noite estava tão cansada de procurar hospitais e bater de cara com "não", que falei pro meu marido fazer um favor p mim: ''Faz uma oração na minha barriga, eu não preciso ouvir nada do que você vai falar só faz isso tá?'' e ele disse: ''Mas porque eu? Faz anos que não vou a igreja, não vai adiantar nada'' e eu respondi: ''Deus não usa só vaso inteiro na obra, usa também vaso quebrado, vaso rachado, faz por mim, por nosso bebê, por favor'' e ele fez durante 7 dias essa oração que até hoje eu não sei o que ele disse e nem o que Deus revelou a ele (ressaltando que a família do meu marido é toda evangélica, mas todos afastados, ele conviveu na igreja 17 anos). No último dia, nós estávamos tão cansados que esquecemos da oração, quando ele saiu para trabalhar eu liguei para ele e disse para fazer a oração enquanto ele estava no ônibus. Eu não sei se ele orou ou não, só sei que 15 minutos depois que eu liguei para ele, minha prima me ligou falando que tinha conseguido uma consulta pra mim no Hospital das Clinicas, na hora eu nem acreditei, comecei a chorar, mandei mensagem agradecendo ao meu marido pelas orações e explicando o que aconteceu, agradeci a Deus por tudo. Quando passei na consulta no HC, foi confirmada a gastrosquise, foram esclarecidas as minhas dúvidas e foi marcada a próxima consulta. 
   No 5° mês de gestação começaram as contrações de 3 em 3 min, a dilatação 3 dedos e as minhas forças se esgotando, já havia tido um aborto de gêmeos antes da minha filha nascer, estava com a mesma idade gestacional e uma insegurança sem igual, todos os dias indo ao P.S do HC, comecei a introduzir remédio para segurar o bebê, para parar as contrações e também comecei o pré-natal lá. Repouso absoluto, cuidados com a alimentação, 3 litros de água, etc. Fui levando dia a dia e o tal do 5° mês não acabava nunca, queria passar logo daquele mês, queria que ela nascesse, uma médica disse: ''Você sabe que se ela nascer agora ela não sobrevive não é? Ainda mais com o que ela tem'', eu disse: ''óbvio que sei sua insensata, onde já se viu falar assim com as pessoas''. Finalmente o 5° mês passou e sobrevivemos, ai o 6°, o 7° e as contrações todas ai, todos os dias dores, todos os dias sustos, mas todos os dias a fé, eu obedecia o repouso, mas não abria mão de ir pra igreja, não pedia nada pra Deus, só agradecia, ''obrigado por tudo Senhor, pelos meus filhos, pelo meu marido, pelo meu casamento, pela minha família'' essa era a minha ladainha diária, nada de pedir só de agradecer. As poucas pessoas que sabiam do meu problema, diziam que os médicos podiam falar o que quisessem, mas que a última palavra seria a de Deus, que Deus estava com as mãos nela. Tinha dias que eu juro, até pedia perdão, mas eu odiava quando falavam ''fé em Deus, vai dar tudo certo'',  no final da gravidez de 3 litros eu bebia 6 ( Técnica p beber água e não passa a noite no banheiro: 8h.- 500 ml, 10h.- 500ml, 12h.- 500ml, 14h.- 500ml, 16h.- 500ml, 18h.- 500ml... 3 litros fácil ...hehe).
   A cesárea foi marcada, dia 24 de setembro, senti medo, ansiedade, angústia. Dia 13 foi a última consulta do pré-natal, fiquei internada por estar com 4 dedos, fui direto pro centro cirúrgico para entrar em trabalho de parto e nada, a dona Letícia resolveu fazer gracinhas, nada de contração, nada de dilatação, fui no dia seguinte para o quarto. No dia 17 fui fazer um ultrassom e tinha somente 3,5 ml de líquido na minha bolsa e estava nos pés da mocinha, corri pro CO... "Eu vou ficar calma, eu não vou chorar, nós vamos conseguir, nós somos guerreira, cadê meu maridooo?" Eu deitada na maca, morrendo de medo, sem saber o que rezar, o  que pedir, escuto de fundo a música da Bruna Karla - Sou Humano. "Poxa, era pra não chorar né?'' Comecei a conversar com minha filha: "nós vamos conseguir, a mamãe não vai ir com você, mas seu pai vai estar lá, o papai do céu vai te ajudar, amorzinho luta, seja forte, não apronta, por favor pensa em mim, pensa em tudo o que passamos e volta pra mim, amo você minha guerreira''. Entramos, nos preparamos e ela nasceu, magrela 2.100kg., chorinho safado, preguiçoso. Na hora que eu a vi, achei que não ia dar, que ela não ia conseguir, era muito pequena, muito magrela, enfim beijei ela e disse vai com Deus minha guerreira e ela se foi com o pai dela pro CO infantil.
  Enquanto estava me recuperando da cesárea, fiquei sabendo que ela já tinha sido operada, passava bem e que era linda. Sai da mesa às 15:40h. e quando foi 20:30h. já levantei, tomei banho, jantei, me recusei a ficar deitada, tinha que ser forte e no outro dia a mesma coisa, andei o dia todo pra lá e pra cá. Enfim, a minha alta, fui direto ver minha filha, linda, magrela, operada, serena na encubadora, ''Nós conseguimos amor, somos guerreiras'', depois de uma semana, ela já estava em um bercinho, tomando a NPP-Nutrição Parenteral Prolongada, um sorinho, a sonda e mais nada, agora era só esperar tirar a sonda para amamentar... paciência! O grande dia chegou e eu pude amamentar, 5 min no peito, a mocinha mamou direitinho (aos meus olhos), no outro dia cheguei cedinho para amamentar e tive um grande susto, ela estava com a sonda novamente, a enfermeira disse: ''Ah, mãezinha tadinha ela vomitou, foi de mais pra ela os 5 min''. Eu quis chorar, regredimos, voltamos a estaca zero, dias se passaram e nada do líquido clarear, quando tudo começou a caminhar novamente a sonda finalmente foi retirada, a mocinha resolveu fazer outra gracinha: cheguei lá e ela estava ''tomando sangue'', a enfermeira veio me explicar: ''Ah, mãezinha ela está com anemia por isso o sangue''. Dois dias depois, a médica autorizou amamentar novamente, começamos com 5 min, eu com medo dei 3 min, a tarde 10 min, eu dei 8, outro dia 20 min eu dei 15, a tarde 30 min eu dei 20. A alta estava prevista para domingo, na quinta a moça fez mais uma graça, pegou uma infecção no PIC - Catéter, mais 14 dias de antibiótico.  Amamentação liberada, podia dar a vontade... eu dava de 30 a 40 min no máximo, 8 dias depois mais vômitos, então voltei a dar de 15 a 20 min de peito. Naquele momento estava tudo certo, era só esperar o bendito remédio acabar, no dia que eu resolvi não ir no hospital, eu recebi a ligação falando que ela estava de alta, pensem na alegria, eu não sabia se pulava, gritava, ligava pro meu marido, gritava a vizinha, postava no grupo, tomava banho, etc. (Fiz tudo isso não nessa ordem, mas fiz.. kkkkk'). Quando cheguei lá a primeira coisa que fiz foi trocar a roupa dela, peguei os papéis, ouvi as orientações, dei beijos em todas, médicas, enfermeiras, faxineiras, etc. Que emoção poder trazer meu pacotinho pra casa depois de 33 dias de UTI. Hoje ela está super bem graças a Deus, continua arteira como sempre desde a barriga, linda e forte!!!
   Agradeço a Deus por essa benção, por ter dado tudo certo, agradeço ao pessoal do grupo que me apoiou, me ouviu e me ajudou, a Paulinha que toda a vez que eu gritei me acudiu. Enfim, mostrar que mais um anjo nasceu e está aqui, firme e forte, quem estiver lendo nunca perca a esperança, Deus sabe o que faz, Ele não nos manda nada que não possamos suportar e sempre está ao nosso lado para nos dar força... uma musica que me ajudou no tempo de UCINE? Bruna Karla- Pai eu confiarei...

Bjoookas' Carolina Campos https://www.facebook.com/kaah.oliveira2?fref=ts






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Peço as mães que precisam de ajuda que deixem os comentários com algum contato, pra conseguirmos ajudá-las. Beijos Camila Bento!