terça-feira, 3 de abril de 2012

15º Depoimento: Gastrosquise

O Felipe tem 3 anos e 8 meses. Nasceu no Hospital de Clínicas da Unicamp em Campinas/SP.


Depoimento:
  • Descobri que estava grávida quando eu tinha 24 anos, em uma consulta de rotina ao ginecologista. Como eu fazia tratamento para depressão há 2 anos, os remédios alteravam muito o meu ciclo menstrual, fui encaminhada para fazer um ultrassom de urgência e já estava com 19 semanas de gestação, ou seja, quase 5 meses. Até então, estava tudo bem com o bebê, fazia pré-natal normalmente. Neste primeiro momento sofri muito, foi difícil para o meu pai entender que eu estava grávida, desempregada e solteira. Meu relacionamento estava bastante abalado e eu já não tinha mais nenhum dos meus amigos, somente a minha cunhada Araceli (uma pessoa que eu julguei e condenei muito, mas a única que nunca me deu as costas), nesse período ela estava trabalhando em um consultório de medicina alternativa e conseguiu pra mim um acompanhamento psicológico com uma Doula (psicológa de gestantes "Lara Gordon"), foi a minha esperança, meu maior conforto.
  • Quando completei 6 meses de gestação, resolvi pagar um ultrassom para guardar as imagens do bebê. Durante o exame, todas as médicas que me atendiam falavam assim: "alguma coisa está errada, mas não dá pra identificar" , repeti os exames 3 vezes, a última pessoa que me atendeu era estagiária da Unicamp e me encaminhou para o pré-natal de alto risco. Foram 4 dias de loucura até chegar lá, foi então que descobri a Gastrosquise. Por instantes eu perdi completamente os sentidos, o chão saiu dos meus pés.
  • Na Unicamp o atendimento é inexplicável, todas as gestantes têm um acompanhamento muito detalhado e ainda contam com um grupo maravilhoso de psicólogas. Tive a oportunidade de conhecer a UTI Neonatal e mães que passavam por esse dilema. Durante um mês fazia pré-natal de 15 em 15 dias, depois toda semana e ao completar 35 semanas eram 2 vezes por semana. Assim como muitas mães, eu também tive a curiosidade de procurar no GOOGLE maiores informações e quase infartei com as imagens que encontrei. Meu Deus que loucura, eu juro que por mais fé que eu tivesse ainda era muito difícil para mim entender como seria possível fazer uma cirurgia desse porte em uma criança tão pequena, eu não conseguia imaginar como tudo aquilo caberia de volta na barriguinha dele.
  • No dia 29 de junho fui a uma festa com minha prima Carla, cheguei em casa ótima e na segunda feira, dia 30, fui para uma consulta de pré- natal. Chegando lá, senti um chute muito forte na barriga e depois parou de mexer, o médico logo me mandou para uma sala de monitoramento e descobrimos que os batimentos cardíacos do Felipe estavam caindo cada vez mais. Às 13 horas me internaram, passei então o resto do dia em observação. No dia seguinte o médico constatou que o meu bebê estava se cansando muito e que não aguentaria mais um dia na barriga, decidiram então que naquele momento o Felipe iria nascer. Foi uma loucura, avisar a família e correr contra o tempo, pois eu estava com 36 semanas e meu parto era previsto para 38 semanas.
  • Às 16h39min, do dia 1º de julho de 2008, nascia meu anjo com 46cm e pesando 2440grs. Ele nasceu com asfixia, praticamente morto sem nenhuma reação, sem choro, rapidamente foi retirado da sala de parto e entubado, recuperou os sinais vitais depois de 30 minutos. Naquele momento o desespero tomava conta de mim, mas entreguei meu filho nas mãos de Deus. Somente às 18h30min pude vê-lo rapidamente. No dia seguinte pude ver ele melhor, tão pequeno e indefeso. No dia 3 de julho, às 7h30min da manhã meu anjo fez a cirurgia que foi até as 12:00h e graças a Deus foi um sucesso. Ele completou a correção abdominal de uma única vez. Nos primeiros dias de vida ficou completamente sedado, então no sexto dia de vida o tão esperado momento, tive meu filho nos braços pela primeira vez. Até esse momento ele se alimentava somente com nutrição parinteral, mas aos 10 dias de vida começou a receber o leite materno por uma sonda. Me lembro claramente como se fosse hoje do momento em que amamentei ele pela primeira vez, aos 12 dias de vida, ele era pequenino, mas já mamava como um touro. Aos 14 dias de vida tivemos uma previsão de alta. Sai de lá muito feliz para almoçar e quando voltei a UTI, ele estava com febre altíssima por uma infecção no catéter que apareceu inexplicavelmente levando meu bebê para a encubadora novamente. Novamente senti o chão saindo dos meus pés, na companhia de duas amigas de hospital estava desesperada, quando de repente uma senhora apareceu, olhou nos meus olhos e me perguntou se eu aceitava uma oração. Aceitei com o coração estilhaçado, durante a oração ela pronunciou o nome do meu filho, mais detalhe.... eu não tinha dito a ela o nome dele. Quando terminou de orar ela me pediu para que eu me acalmasse, pois Deus tinha um propósito para minha vida e saiu sorrindo depois de um abraço caloroso. Ao chegar a UTI o médico me chamou e me disse: " inexplicavelmente os novos exames do Felipe estão ótimos", mas ele vai receber a medicação em veia durante 7 dias e você ficara com ele aqui no alojamento conjunto tardio para manter a amamentação. Eu voltei correndo para o refeitório para agradecer aquela senhora, mas ninguém tinha visto ninguém com aquela descrição lá naquele dia. Me coloquei a chorar e não tive dúvidas de que era as mãos de Deus agindo em nossas vidas. Aos 22 dias de vida o Felipe teve alta, foi o primeiro bebê da UNICAMP a ter alta com menos de 35 dias. Fizemos até algumas fotos lá para a campanha da amamentação do ano de 2008.
  • Aprendi ao ser mãe que viver não é apenas existir... é lutar pela vida a cada minuto... pois Deus tem um plano de vida para cada um de nós. As mães que ainda vão passar por isso, tenham muita fé, pois Deus estará sempre com vocês e com certeza vocês, assim como eu, terão um testemunho de superação para deixar aos que ainda virão. Finalizo agradecendo de todo meu coração as pessoas que estiveram ao meu lado me dando apoio, carinho e força. Primeiramente a Deus que me mostrou o verdadeiro amor pela vida. Araceli, minha cunhada e amiga, hoje madrinha do meu filho. Um anjo chamado Lara Gordon, Deus sabe como foi importânte segurar nas suas mãos quando mais precisei. Meus pais e irmão que nunca me deixaram sozinha, mesmo sofrendo em silêncio. Carlão... mega amigo que saia da cama as 6hrs da manhã pra me acompanhar nas consultas de pré-natal e a camila esposa desse amigo e super especial.
  • Querida Camila, agradeço a oportunidade de contar essa história e que Deus abençõe muito você e toda sua familia com esse gesto maravilhoso de transmitir carinho e atenção nesse momento tão dificil.

Um comentário:

  1. Que lindo seu relato, mais uma prova de que Deus Existe e Cuida de Nós. Me comovi muito. :)

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