segunda-feira, 16 de abril de 2012

A rotina na UTI Neonatal

"A palavra UTI não deve assustar tanto, pois ela significa unidade de terapia intensiva. Mesmo que no imaginário coletivo esteja ligada a pacientes terminais, uma UTI é aliada da vida. Mas afinal o que é isso? UTI é um setor do hospital, criado especialmente para tratar pessoas que precisam de mais atenção que outras. É onde a observação da criança é total, e para isso existe muita tecnologia, como máquinas que monitoram tudo que o bebê faz: o quanto come, o quanto respira, de que jeitinho o coração está batendo, a quantidade certa de medicação, etc. Por isso também que tem tanta gente trabalhando dentro de uma UTI, são muito mais profissionais que em qualquer outro setor do hospital." Cartilha das Mães de UTI - Instituto Abrace.
  • A primeira visita a UTI Neonatal é muito difícil, seja antes do bebê nascer ou depois. Tive a oportunidade de conhecer a UTI antes do Pedro Henrique nascer, durante uma consulta do pré natal pedi para ir até lá. Estava muito curiosa, pois com o diagnóstico do meu bebê, já sabia que os primeiros cuidados que ele receberia seriam lá, então precisava me familiarizar com aquele ambiente. Me lembro como se fosse hoje, eu entrando lá dentro, lavei as mãos e coloquei o avental como todas as mães faziam, o enfermeiro me chamou e me disse: quer conhecer um bebezinho com gastrosquise? E eu respondi que sim. No momento em que me aproximei daquela mãe tive vontade de perguntar mil coisas, mas travei. Me contentei em apenas olhar aquele bebê lindo e perfeito no colo da mãezinha dele, olhei para os lados vi uns bebezinhos prematuros e alguns pais chorando, não pude deixar de perceber que as máquinas apitavam todo o tempo e fiquei pensando que poderia estar acontecendo alguma coisa com algum bebê, em seguida o enfermeiro me disse que eu teria que deixar o local. Voltei pra casa muito triste, chorei bastante, naquela época eu tinha 19 anos, nunca tinha parado pra pensar como era uma UTI Neonatal e muito menos, que tão cedo eu precisaria de uma.
  • No dia em que o Pedrinho nasceu, nem pude toca-ló, só vi as enfermeiras passando com ele na incubadora, já sabia que não teria muito contato com ele ao nascer, mas não consegui gravar nem o rostinho dele e isso me doeu demais. Fui para a sala de recuperação, fiquei rezando e esperando notícias, antes mesmo de me levarem para o quarto, ele já havia sido operado. Quando cheguei no quarto, meu marido me disse que nosso bebê estava bem, mas isso não era o suficiente, tudo o que eu mais queria era ir conhecê-lo, como ele tinha nascido no fim da manhã, eu não me dei conta que eu só iria ser liberada pra ir na UTI no outro dia de manhã. Chorei muito e quando vi as outras mães que estavam no quarto amamentando e cuidando de seus bebês, chorei mais ainda. Meu marido tentando amenizar o meu sofrimento, foi até a UTI e tirou várias fotos do Pedro, passei aquela madrugada olhando as fotos. No outro dia antes das 6h. a enfermeira apareceu, como eu estava com muita dor e a UTI não era muito perto do quarto, fui de cadeira de rodas.
  • Na primeira visita ao meu filho, os sentimento se misturaram e não sei explicar o que eu senti. Era muita emoção e alegria por estar vivendo aquele momento tão esperado, mas ao mesmo tempo tristeza, medo, muita dor de ver meu bebezinho naquela situação. No primeiro momento foi aquele choque, me deparar com aquele monte de aparelhos, sondas, tubos, agulhas, curativo, etc. E o mais difícil, era ter que lidar com o fato de não poder pegá-lo no colo, chorei todo o dia, sabia que estava errada, que não deveria chorar perto do bebê, mas não conseguia parar de chorar nem sair de perto dele. Então naquela noite, resolvi chorar tudo que tinha pra chorar e a partir daquele dia nunca mais chorei perto dele, queria que ele sentisse que estávamos confiante na sua recuperação.
  • Eu e o Luis Eduardo, conversávamos muito com ele, fazíamos carinho, começamos a participar dos cuidados aos poucos trocando as fraldas, depois do terceiro dia pegamos ele no colo, quando tinha as trocas de plantão e os pais tinham que sair da UTI, eu ia para o Banco de Leite, quando estava em casa também tentava tirar o leite para levar para o hospital. Todos os dias eu ia embora do hospital com o coração apertado, ao sair de dentro da UTI era quase impossível conter as lágrimas, sabia que meu filho estava muito bem cuidado, mas mesmo assim queria estar perto dele, tinha o telefone da UTI e ficava ligando pra lá na madrugada pra saber como ele estava, depois de saber notícias eu conseguia dormir.

  • Um dia vi a enfermeira dando banho e pedi para começar a participar daquele momento, então ela disse que naquele dia eu iria assistir e que no dia seguinte eu daria o banho. Claro que fiquei com medo, pois ele ainda estava cheio de aparelhos e o banho era em uma bacia, mais precisava aprender e participar daquele momento. Cada conquista por menor que fosse era motivo de muita alegria, aos poucos conseguíamos nos sentir úteis naquele ambiente e mais próximos do nosso filho. O primeiro banho foi inesquecível, a primeira mamada, o primeiro cocô, o primeiro dia no berçário, enfim, na UTI passamos a enxergar a vida de outra forma. Percebemos que não estávamos sozinhos, que os médicos, enfermeiros e os outros pais eram nossos maiores aliados, que um dia eles nos davam força e nos outros dias era a nossa vez de prestarmos a nossa solidariedade.
  • A rotina na UTI não é fácil, é preciso ter muita compreensão, tem dias em que é difícil aceitarmos as regras, muitas vezes queremos que os nossos familiares (que muitas vezes vem de longe) conheçam nossos pequenos, mas isso não é permitido e às vezes ficamos chateados com os enfermeiros, ao invés de compreendermos que essas regras são para o bem dos nossos filhos. Há dias em que os médicos e enfermeiros estão ocupados com outros bebês e não conseguem nos dar a atenção que gostaríamos de receber e nesse caso ficamos cheios de dúvidas, outros dias eles acabam sendo frios ou rudes conosco. Todas essas situações devem ser compreendidas nesse ambiente, pois somos submetidos a situações de estresse, de tristeza, o que acaba gerando um desgaste emocional muito grande em todos.
  • Bom amigos, através desse post tentei dividir a minha experiência com todos vocês e de alguma forma ajudá-los a enfrentar esta etapa tão difícil. Gostaria de deixar alguns conselhos, baseados na minha experiência, nas experiências dos pais que compartilham suas histórias comigo e em tudo que tenho lido a respeito:
  1. Informem-se, quando tiverem oportunidade de conversar com o médico ou enfermeiro esclareçam todas as dúvidas, não esquecendo que cada caso é um caso, que por mais que a gente troque experiências, cada bebê reage de uma forma ao tratamento;
  2. Conversem com as mães da UTI, só elas podem compreender a dor que estamos sentindo e muitas vezes também estão precisando de uma palavra de conforto;
  3. Demonstrem interesse em participar da rotina do bebê, peçam aos enfermeiros para trocar as fraldas, pegar no colo, dar banho, amamentar etc., por mais que estejam inseguras e com medo, podem ter certeza que vão se sentir melhor e mais próximas do bebê e eles se sentirão mais seguros e amados. Além disso, as mães que não têm experiência com crianças, poderão aproveitar para aprender com o enfermeiros;
  4. É difícil sair da UTI, mas o bebê precisa sentir que a mãe está bem e para isso é preciso sair um pouco do hospital. Permitam-se ir pra casa descansar, dormir, alimentar-se bem, ficar com o marido e com os outros filhos, dar um passeio, uma caminhada sem se sentir culpada, seu bebê estará bem cuidado e você poderá ligar para a UTI sempre que sentir saudades dele;
  5. Nesse momento aceitem o apoio e a ajuda dos familiares e amigos. Às vezes não conseguimos dar conta de tudo sozinhas e isso é normal, pois é tanta coisa para se preocupar e resolver. Quando alguém se oferecer para ajudá-las, aceitem, às vezes as pessoas não sabem como fazê-lo, digam o que precisam, uma carona, uma ajuda com os outros filhos ou até mesmo um ombro amigo podem fazer muita diferença;
  6. Informem-se sobre o que o hospital oferece, como já havia dito no post anterior, alguns hospitais fornecem refeição para a principal acompanhante do bebê na UTI, isenção ou desconto no estacionamento, acompanhamento psicológico, local para higiene pessoal, armário para guardar os pertences, etc.
  • Vou acabar esse post com algumas orientações que recebi no Hospital São Lucas da PUCRS:
  • Enquanto permanecer na UTI, conforme a possibilidade toque o seu bebê, converse, diga o quanto você o ama e o quanto ele é importante! Observe que ele reconhece a sua voz, seu cheiro e sente sua presença! Isto acontece desde a gestação.
  • Verifique o que acontece com seu filho quando você interage com ele:
  • Relacionamentos harmoniosos, afetivos e dialogados ajudam o bebê a distinguir sons e desenvolver a linguagem;
  • Quando o bebê é acariciado e abraçado, apresenta menos pausas respiratórias;
  • Acariciar o bebê por cinco minutos, a cada hora, melhora os movimentos intestinais, a atividade de crescimento e diminui o choro.
  • A sua presença e participação são fundamentais para o crescimento e desenvolvimento do seu bebê. Converse com a equipe e busque estar o máximo possível com seu filho.

2 comentários:

  1. Nossa amiga impossivel não relembrar cada segundo ouvindo suas palavras... impossivel conter as lagrimas ... é como se eu estivesse ouvindo minha história na voz de outra pessoa... só que hoje com lágrimas de emoção.
    É uma honra ter vocês por perto. Poder ajudar pessoas que ainda vão passar por esse momento. Que Deus abençõe você e sua familia sempre.
    Bjinhos

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  2. Muito bom esse post Camila. Tudo muito bem explicado e realmente é difícil não passar um filme na nossa cabeça enquanto lemos. Parabéns! Beijos.

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